Neste Dia Mundial da Poesia - e num ano em que se comemora o centenário de Sophia de Mello Breyner Andresen - aqui fica esta singela homenagem a um dos maiores nomes da poesia portuguesa.
Sophia, por Arpad Szenes (imagem da capa de Livro Sexto, Ed. Salamandra) |
O poema
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
in Livro Sexto, de Sophia de Mello Breyner Andresen,
Ed. Salamandra, 1985
Ed. Salamandra, 1985
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