quarta-feira, 29 de maio de 2013

Prémio Camões 2013 atribuído a Mia Couto

O escritor moçambicano Mia Couto foi distinguido com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Este prémio consagra anualmente um autor que, pelo conjunto da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa.

O anúncio foi feito no Rio de Janeiro, onde esteve reunido o júri composto por professores e críticos literários de Portugal e do Brasil, além do escritor angolano José Eduardo Agualusa e do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho.

O júri justificou a sua escolha com a vasta obra deste escritor, "caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade". A obra de Mia Couto, que conta já com 30 livros publicados, tendo alguns títulos sido traduzidos para cerca de duas dezenas de línguas, "inicialmente foi muito valorizada pela criação e inovação verbal, mas tem tido cada vez maior solidez na estrutura narrativa e capacidade de transportar para a escrita a oralidade."

Mia Couto publicou o seu primeiro livro, Raiz de Orvalho, um livro de poesia, em 1983. É com Vozes Anoitecidas, um livro de crónicas, que recebe o prémio da Associação de Escritores Moçambicanos. Em 1992 publica o seu primeiro romance, Terra Sonâmbula, no qual Mia Couto introduz aquelas que se tornarão as marcas características do seu estilo, nomeadamente a "desobediência" ao padrão da língua portuguesa e a inovação vocabular inspirada na oralidade.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Os 70 anos da insurreição do gueto de Varsóvia

Decorreu, no passado sábado, dia 18 de maio, no Fórum Municipal de Castro Verde, um Seminário de Formação subordinado ao tema "Os 70 Anos da Insurreição do Gueto de Varsóvia".

Este Seminário, organizado pela Escola Secundária de Castro Verde e pela Memoshoá - Associação Memória e Ensino do Holocausto, contou com a participação da Dra. Esther Mucznik, Presidente da Memoshoá, do Dr. Jochen Oppenheimer, professor universitário, e da Dra. Eliana Rapp Badihi, da Escola Internacional do Yad Vashem. O Seminário foi também uma oportunidade para a apresentação de dois projetos sobre a memória do Holocausto que foram desenvolvidos ao longo deste ano letivo, um na Escola Secundária de Castro Verde e o outro na Escola Secundária Josefa de Óbidos, em Lisboa.

Uma das facetas menos conhecida da história do Holocausto é exatamente a dos levantamentos e revoltas dos Judeus contra os seus captores. Ocorreram cerca de 50 levantamentos em guetos e campos de extermínio, dos quais o mais conhecido é, sem dúvida, o do Gueto de Varsóvia, o qual aconteceu entre 19 de abril e 16 de maio de 1943. Durante quase um mês um grupo de cerca de 750 Judeus, mal armados e enfraquecidos pela fome, pelas doenças e pelos maus-tratos constantes, resistiram às bem treinadas e bem equipadas tropas nazis. Finalmente, ao final do dia 16 de maio, a revolta foi esmagada e o gueto foi completamente arrasado pelos nazis.

Das diversas intervenções, salientamos as palavras da Dra. Esther Mucznik, que nos parecem extremamente pertinentes face ao momento que atravessamos no nosso país. Afirmou a Dra. Esther, a propósito da resistência dos Judeus do Gueto de Varsóvia: “A resistência é mais que a luta armada; no meio do desespero, um sorriso é resistência.”

Finalmente, foram apresentados os projetos das escolas. A escola anfitriã do Seminário, a Escola Secundária de Castro Verde, apresentou mais detalhadamente o projeto “Memória Viva”, dinamizado pela profª Aura Pereira, em colaboração com a Biblioteca Escolar, o qual envolveu alunos, professores, funcionários e a comunidade local, contando com o apoio da Câmara Municipal, entre outras entidades locais. Foi um projeto abrangente e ambicioso, mas extremamente rico, quer do ponto de vista pedagógico, quer do ponto de vista do desenvolvimento pessoal e social de cada um dos participantes. Particularmente interessante, para além das intervenções das professoras Aura Pereira e Paula Freire, professora bibliotecária da Escola Secundária de Castro verde, foi o testemunho, breve mas sentido, de duas alunas da turma PIEF da escola.


Os nossos parabéns à organização e a todos os intervenientes por esta excelente iniciativa.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Um poema de Nuno Júdice

Escola

O que significa o rio,
a pedra, os lábios da terra
que murmuram, de manhã,
o acordar da respiração?

O que significa a medida
das margens, a cor que
desaparece das folhas no
lodo de um charco?

O dourado dos ramos na
estação seca, as gotas
de água na ponta dos
cabelos, os muros de hera?

A linha envolve os objectos
com a nitidez abstracta
dos dedos; traça o sentido
que a memória não guardou;

e um fio de versos e verbos
canta, no fundo do pátio,
no coro de arbustos que
o vento confunde com crianças.

A chave das coisas está
no equívoco da idade,
na sombria abóbada dos meses,
no rosto cego das nuvens.

Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"

Nuno Júdice vence Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana



O poeta português Nuno Júdice recebeu esta quinta-feira o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca.
O prémio reconhece o conjunto da obra poética de um autor vivo que, pelo seu valor literário, constitua uma contribuição significativa e relevante para o património cultural partilhado pela comunidade ibero-americana,
Nuno Júdice nasceu no Algarve, em 1949, formou-se em Filologia Românica pela Universidade Clássica de Lisboa e é professor associado da Universidade Nova de Lisboa. É autor de 30 livros de poesia, entre os quais A Matéria do Poema e Guia dos Conceitos Básicos. O autor, que começou a publicar poesia em 1979, tem também publicadas obras de ensaio, teatro e ficção. A sua obra está traduzida para italiano, francês e inglês, além do castelhano.
Esta é a segunda vez que um poeta português recebe este importante prémio, uma vez que Sophia de Mello Breyner foi distinguida com o Prémio Rainha Sofia em 2003.

domingo, 5 de maio de 2013

Dia da Mãe

Palavras para a Minha Mãe

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.


José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

Pintura de Winifred Whitfield